terça-feira, 20 de novembro de 2012

Somos todos um só



Certamente se um pesquisador do IBGE batesse a minha porta e em seguida perguntasse qual é a minha raça, ficaria literalmente muda. Pois não saberia definir. Principalmente, considerando a miscigenação de “raças” da qual resultou a formação do nosso povo e, certamente, nossa cultura. Do ponto de vista genético, uma parte significativa da população brasileira tem a África no sangue. Apesar disso, há quem se considere branco ou pardo, mesmo sem avaliar sua árvore genealógica.

Foi provado recentemente, não existir embasamento científico, do ponto de vista biológico, que justifique a existência de raças na espécie humana, já que as diferenças são insignificantes. Ou seja, somos todos de uma mesma raça: a raça humana. Portanto, voltando a pesquisa do IBGE, marque a opção: Raça humana.

Na tentativa de subjugar determinadas raças, o ser humano, buscou, historicamente, e de forma inescrupulosa, comprovar a inferioridade de determinados povos, o que gerou uma violência irracional que afetou, durante longo período, tanto negros quanto judeus.

Lamentavelmente, após alguns séculos, o preconceito persiste como se estivesse em nosso DNA. Tal fato levou a necessidade de se criar Leis que protegessem pessoas consideradas de minorias étnico-raciais. Daí a existência da Lei 10.639/2003, que dentre outras garantias, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Nas redes oficiais e particulares de ensino, tornou-se obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira. Uma medida mais do que justa e uma maneira de buscar minimizar os efeitos da exclusão social a que foi submetida, historicamente, uma parte significativa da população brasileira.

Que no dia de hoje possamos resgatar a valorosa contribuição do negro para o desenvolvimento do país, no âmbito social, econômico e político.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

EDUCAÇÃO INFANTIL: OBEDIÊNCIA X AUTONOMIA


   Para realizar sua tese de doutorado a pedagoga Adriana Maimone Aguillar se debruçou, por quase três anos, no estudo sobre a rotina escolar na Educação Infantil e nos anos iniciais, objetivando analisar como a instituição escolar lida com o corpo das crianças na transição entre essas duas modalidades de ensino. Para tanto, acompanhou neste período de pesquisa, um grupo de crianças, inicialmente na Educação Infantil e,  posteriormente, no ensino regular. Sua intenção foi registrar o modo como as crianças se situam neste espaço, as interações com os seus pares e com os adultos.

    Suas constatações revelam o modo como, na prática, está caracterizada a Educação oferecida ao público infantil. E, lamentavelmente, revela uma realidade marcada por uma rotina caracterizada pelo controle excessivo dos corpos, visando a obediência cega. Com pouco espaço para o exercício da autonomia e espontaneidade.

    Em entrevista à Revista Educação Infantil (no. 02), a pedagoga revela aspectos sobre os quais vale a pena refletir.

    Sua principal hipótese partia da premissa de que o controle sobre os corpos das crianças se tornaria mais intenso a partir do seu ingresso no Ensino Fundamental. No entanto, seus estudos acabaram por revelar: "... percebi que, já na educação infantil existia um controle muito grande sobre a movimentação das crianças, contrariando inclusive as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que preconizam a integração entre as diferentes dimensões envolvidas no desenvolvimento infantil - o cuidado, a socialização e a educação escolar".

    Vale ressaltar que, já na faculdade, cursando uma Especialização em Educação Infantil, chegamos a triste constatação  de que a grande maioria dos profissionais da educação e que atuavam na Educação Infantil, sequer haviam sido apresentados aos parâmetros mencionados acima. O que é inusitado, já que a maioria das escolas receberam, pelo menos um exemplar do documento; e ainda, em tempos de internet, os mesmos se encontram disponíveis para consulta, basta fazer uma busca online.

    Atualmente, a prática pedagógica na Educação Infantil deverá seguir as orientações determinadas pela RESOLUÇÃO Nº 5, de 17 de dezembro de 2009.(portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc)

    A pedagoga relata, em sua pesquisa, que todo o deslocamento realizado pelas crianças, no interior da instituição, faz-se através de filas, demonstrando uma preocupação constante com a disciplina. Tal fato me fez recordar um episódio envolvendo uma turma de crianças do 2o. período em aula-passeio, no zoológico. A professora insistia em manter as crianças enfileiradas, durante o percurso do passeio. O que era difícil, considerando o entusiasmo e a curiosidade das crianças, que corriam para todos os lados, em função da variedade de estímulos, o que, certamente, deixou a professora um pouco frustrada e desorientada com a movimentação e o entusiamo dos pequenos.

    A pedagoga, acrescenta: "O objetivo de manter a ordem, o controle, a fila, o silêncio, tudo isso nos remete realmente às práticas seculares da escola e até dos mosteiros. (...) É difícil afirmar que o mesmo ocorre em todas as escolas, ou na maioria delas, mas podemos arriscar que ainda é forte a presença de uma concepção de ensino que preza a ordem, a fila, a obediência e não se arrisca em formas mais lúdicas, expressivas, criativas, potentes, inusitadas de trabalhar com as crianças".

    Metodologias de ensino pautadas na ludicidade, que respeitam a natureza da crianças e compreendem que estas requerem um modo particular de apropriação da realidade já foram, há muito, proclamadas por teóricos como Montessori, Piaget e Vigotski,  em meados do século passado. A razão pela qual tal inovação não chegou às instituições de ensino, deve-se, possivelmente, a um único fator: deficiência na formação inicial e em processos de formação continuada, que apesar do empenho do governo, não conseguiram libertar o espírito, da maioria dos educadores, do tradicionalismo que caracteriza sua prática pedagógica. 

    Sobre a importância do movimento na Educação Infantil, a educadora destaca: "As crianças são pura intensidade, puro movimento, são moles, flexíveis, mas os adultos, por meio da educação, vão endurecendo estes corpos, impedindo que eles se manifestem em sua expressividade e experimentação. Em contrapartida, a possibilidade de experimentar movimentos, contatos físicos por meio de atividades lúdicas e/ou artísticas favorece a criatividade, a descoberta de si e do outro, além do prazer. Ao conhecer as diversas e infinitas possibilidades de movimentos, posturas corporais e ações, a pessoa cresce, aprende a lidar consigo e com o outro. Abre espaço para o novo em seu próprio corpo,  para  novos conhecimentos. Está mais aberta e com mais ferramentas para simplesmente vivenciar acontecimentos e encontros".

    E,  finaliza: "... se as crianças fossem educadas para se tocarem, se olharem, se misturarem, se embolarem com respeito, com amor, com ternura, com carinho, conhecendo os limites do seu corpo e do corpo do outro... Tudo isso demanda também uma alteração no modo de formar os professores e no modo de a sociedade conceber as relações humanas".

    Como se vê,  as mudanças não são simples, mas, possíveis. Refletir sobre esse processo, tanto no âmbito escolar, quanto familiar, já é um bom começo.