Do ponto de vista etimológico a palavra autonomia deriva de dois vocábulos gregos: auto (próprio) e nomos (lei ou regra). A autonomia, portanto, consiste na capacidade desenvolvida pelo sujeito de definir seus próprios limites e regras, sem que haja a necessidade de uma imposição ou pressão externa. Sendo assim, o indivíduo autônomo seria aquele dotado da capacidade de se auto-regular e/ou auto-determinar; capaz de gerenciar e regular seus próprios atos; consciente dos limites colocados pelo meio social e natural no qual está inserido.
Para Vigotski, o domínio da própria conduta, da mesma forma que o pensamento, a linguagem oral, escrita e visual, memória e atenção voluntárias, percepção e imaginação, dentre outras, são funções psicológias superiores. Em cada indivíduo tais capacidades vão se desenvolver de forma singular, como resultado de um processo dialético entre o universo social e o individual.
Na perspectiva Vigotskiana, a autonomia, manifesta-se como domínio da própria conduta, é um processo dialético que se estabelece e se configura a partir de processos internos e externos. Razão pela qual não se pode pensar processos psíquicos de forma isolada e desarticulada do contexto social no qual o sujeito está inserido.
Portanto, favorecer o desenvolvimento da autonomia infantil, não significa deixar a criança entregue a sí mesma, já que sem a presença do outro social (família, escola e comunidade), tal capacidade não se constitui, tanto quanto qualquer outra, inerente à condição humana.
O desenvolvimento da autonomia também não se faz por decreto, já que requer condições sociais favoráveis. A mais importante, pressupõe a superação de uma visão estereotipada do ser criança.
Vivemos numa sociedade onde predomina uma concepção de mundo "adultocêntrica". Dirigida e pensada pelos adultos para os adultos. Neste contexto vivenciamos, cotidianamente, inúmeras ameaças à infância, assim como, infinitas agressões às crianças, como também, aos seus direitos mais básicos.
Como consequência desta percepção, a criança é vista como um ser que ainda não é. Como quem ainda está para ser. Um incômodo para alguns e mera "bagagem" a ser transportada para cá e para lá, por outros. Por esta razão as crianças são tratadas como seres ignorantes, incapazes e totalmente dependentes.
Vista como objeto e não como sujeito, a criança fica na dependência do adulto para exercer alguma atividade, sem que sejam consideradas suas reais demandas e interesses. Nesta situação fica clara a oposição entre a liberdade da criança à presença do adulto, ao mesmo tempo em que são colocados limites ao desenvolvimento de sua autonomia, já que ao contrário, busca-se estimular sua passividade.
A atividade infantil fica limitada aos momentos planejados e previstos pelo adulto, em função de seus interesses e expectativas em relação à criança. "Sendo assim, a criança passa uma parte de seu tempo esperando: esperando que alguém venha até ela, esperando que chegue o momento da atividade, esperando crescer para variar de atividade, esperando passivamente". (Judit Falk, 2004)
Rever os nossos conceitos e percepções sobre a infância e a criança, possibilitará mudanças significativas na forma como educamos os pequenos, de modo a favorecer o desenvolvimento de sujeitos autônomos, conscientes de seus direitos e obrigações sociais. Cidadãos aptos a construir uma sociedade mais humana e, efetivamente, democrática.
Pedagoga e Profa. Solange Sampaio de Oliveira
Pós-graduada em Educação Infantill pela UFAM/AM
Pós-graduada em Educação Especial pela UFC/CE


