quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Escola Comum Inclusiva e o atendimento educacional especializado

Solange S. Oliveira
Pós graduada em Educação Infantil e Educação Especial

Compreende-se por Escola Comum Inclusiva, aquela em que, qualquer aluno, independente da natureza de sua limitação, tem a possibilidade de aprender, a partir de suas aptidões e capacidades. A Educação Especial assume neste contexto outro papel, diferente daquele concebido em ambientes segregados socialmente. No contexto de inclusão, a Educação Especial, assume um caráter de natureza complementar e/ou suplementar, através da oferta de recursos, serviços e estratégias de acessibilidade que perpassam todos os níveis e modalidades de ensino, desde os níveis mais elementares da escolaridade do sujeito até os graus mais elevados de sua formação acadêmica.

Nesta nova perspectiva, a Educação Especial deixa de ser um sistema paralelo de ensino, ao mesmo tempo em que segregador. Propondo uma reformulação conceitual e atitudinal frente à pessoa com deficiência, assim como, em relação à prática pedagógica que, historicamente,  caracterizou o atendimento a este grupo de indivíduos. Tal reformulação requer a reflexão sobre novas práticas pedagógicas, pautadas numa revisão teórica e prática dos processos de ensino e aprendizagem.

O processo de inclusão escolar traz consigo a necessidade de contestarmos o sistema educacional vigente em seus fundamentos. A escola segregadora é abalada em sua estrutura pela proposta pedagógica inclusiva. Já que se fundou, historicamente, num modelo de organização que classifica alunos e os separa, segundo suas diferenças e semelhanças. Num tratamento que se destina a coisas e objetos, mas, que não convém à pessoas. Onde cada aluno, em função de suas diferenças, ocupa  um lugar determinado. O espaço comum só é permitido entre os iguais.

A escola das diferenças é a escola na perspectiva inclusiva. É aquela que reconhece as diferenças dos alunos frente ao processo educativo e busca a participação e o progresso de todos. Ao mesmo tempo em que se reinventa do ponto de vista pedagógico, considerando novos paradigmas e preceitos educacionais, sintonizada com as mudanças que estão se dando no âmbito social, econômico e político da sociedade atual. Onde todos devem tomar consciência de que o movimento de inclusão escolar não se limita apenas ao atendimento as pessoas com deficiência, mas, sobretudo, ao atendimento das diferenças presentes na escola, como também nos demais espaços sociais.

MUDANÇAS NA INSTITUICAO ESCOLAR

Nenhuma mudança ocorre por decreto. Deseja-se que toda ação de mudança no interior da escola seja a expressão da vontade coletiva, que deverá estar expresso no seu Projeto Político Pedagógico. É imprescindível que a escola assuma em seu Projeto Político Pedagógico o compromisso com o processo de inclusão escolar. Para tanto, na proposta pedagógica da escola devem se levar em conta todos os mecanismos necessários para que tal processo se efetive. Levando em conta a organização do espaço e do tempo escolar, suas rotinas, a organização das atividades em consonância com os objetivos propostos, assim como, a proposição do atendimento educacional especializado, proporcionando aos alunos com deficiência, a complementação ou suplementação na sua formação, garantindo o efetivo desenvolvimento de sua escolaridade. Deste modo, o atendimento educacional especializado não será apenas um apêndice no contexto escolar.

No entanto, é necessário destacar que as práticas pedagógicas inclusivas aqui mencionadas não se referem à mera adaptação para alguns alunos que se encontram em situação de desvantagem, mas, sim, a diferenciação nos processos pedagógicos de modo que as diferenças individuais sejam atendidas.

O AEE realizado na Sala de Recurso Multifuncional deve constar no PPP (Projeto Político pedagógico) da escola. Nele devem estar previstos: a organização e os recursos para o AEE, tais como: matrícula, aquisição de equipamentos, indicação do professor, articulação entre os professores, rede de apoio (interna e externa a escola).          Estabelecidas às competências do professor do AEE; horário de atendimentos aos alunos, preparo de material didático, orientação às famílias, aos professores da sala comum e aos demais funcionários que estejam envolvidos no atendimento ao aluno. Como também, devem estar previstos formas de avaliação do AEE, visando o aprimoramento do serviço oferecido.

Sobretudo, é fundamental que o(a) professor(a) nutra  uma elevada expectativa e estima  por seus alunos. O sucesso escolar depende da capacidade de fazer despertar, em cada indivíduo, suas competências e talentos. Limitações, certamente, todos as temos. Mas, jamais, deverão servir de desculpa para limitar o desenvolvimento humano de qualquer sujeito, tenha ele deficiência ou não.

O AEE E A ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE

O deslocamento do sujeito no espaço depende inicialmente de sua capacidade de orientação e mobilidade neste espaço. Sempre que nos deslocamos, o fazemos em determinada direção em função dos objetivos que nos movem. Pressupõe, ainda, a capacidade de decidir sobre as condições mais favoráveis para este deslocamento, assim como, das condições físicas e materiais necessárias para que o mesmo ocorra. Orientação e mobilidade são ações interdependentes. Já que sempre nos movemos em determinada direção e sentido, considerando um dado espaço  e suas referências.



COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DO AEE NO ÂMBITO ESCOLAR

Compete ao profissional do AEE o conhecimento das limitações físicas e motoras apresentadas pelo aluno com deficiência e que o impeçam de ter acesso a determinados espaços, assim como, participar das atividades no ambiente escolar.  Tal conhecimento viabilizará o planejamento de recursos de baixa e alta tecnologia assistiva adequados e que favorecerão uma melhora no seu desempenho nos diferentes espaços e atividades.

O AEE deve atuar no sentido de oferecer ao aluno com deficiência todas as informações necessárias para o seu descolamento dentro do espaço escolar. Para tanto, deverá prever em seu plano atividades, estratégias e recursos que permitam a exploração do espaço pelo aluno, de modo que aos poucos este possa se familiarizar com o mesmo, assim como, com o pessoal da escola que atua nesses diferentes espaços.

Sendo assim, para que o aluno tenha sua acessibilidade garantida no ambiente escolar, é necessário que o profissional do AEE identifique as barreiras, tanto físicas quanto atitudinais, de modo a elaborar estratégias adequadas visando a superação de tais obstáculos. Ao mesmo tempo esta avaliação permite auxiliar o profissional na escolha dos recursos de tecnologia assistiva mais adequados para cada caso, que será sempre personalizado.

A seguir apresentamos um Estudo de Caso, trabalho realizado como requisito do Curso de Especialização lato sensu para a obtenção do título de especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UFC/CE em 2011.


RELATO DE EXPERIÊNCIA: CASO MARGARIDA

O Projeto da Educação Inclusiva, que ora vem se processando e consolidando nos sistemas educacionais públicos do país, amparado pela atual Política de Educação Especial na perspectiva inclusiva, não pode ser visto como mero modismo. Ou, como resultado da imposição de um decreto governamental, como pensa alguns. O processo de inclusão escolar visa, sobretudo, combater a exclusão social a que, historicamente, foram submetidas às pessoas com deficiência.

No entanto, sabemos que a inclusão escolar não se estabelecerá por decreto. Há um logo caminho a ser percorrido, apesar dos avanços e do crescimento das matrículas de pessoas com deficiência, nos últimos anos, nas escolas públicas do nosso país.

Porém, o processo de inclusão escolar não se efetiva pelo simples fato do acesso à escola. É necessário oferecer às crianças e jovens que  buscam à escola, condições favoráveis para o pleno desenvolvimento de suas potencialidades, apesar de suas limitações vinculadas à deficiência. Cabendo à escola, em primeiro, a consciência de suas próprias limitações e a disposição de transformar-se em um ambiente capaz de acolher a diversidade, respeitando as diferenças e peculiaridades de cada sujeito no seu processo de aprendizagem.

Visando a superação das barreiras de natureza atitudinal e física ao processo de inclusão escolar da pessoa com deficiência é que atual política dispõe sobre o atendimento educacional especializado, através do Decreto 6571/2008, de caráter complementar e/ou suplementar, e não mais substitutivo como ocorria, anteriormente, conforme seu parágrafo 1º. 

Dentre as preocupações da Política de Educação Especial numa perspectiva Inclusiva, está a formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado. Do qual estou tendo a oportunidade de participar tendo em vista a necessidade de qualificar minha prática docente, especialmente na educação infantil, no atendimento às crianças com deficiência. Para  que as limitações impostas pela deficiência, não resultem em limitações em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Garantindo assim, que estas, apesar de suas limitações físicas e orgânicas, sejam de que natureza for, possam desenvolver suas potencialidades.

É com este objetivo que se realizou o estudo de caso de uma criança com PC (paralisia cerebral), matriculada na Educação Infantil,  tendo em vista a elaboração de um Plano de AEE, voltado para o atendimento de suas demandas e considerando as peculiaridades no seu processo de desenvolvimento físico e motor.



1.   Caso Margarida

Margarida é uma criança que apresenta diagnóstico de Paralisia Cerebral, faz acompanhamento fisioterápico e com fonoaudiólogo há aproximadamente 2 anos, apresentando boa resposta. Em avaliação realizada em 2010 no Complexo Municipal de Educação Especial, constatou-se agitação psicomotora, ausência de limites, rebaixamento da atenção, concentração e retenção de estímulos. A tia informou que a mesma necessita de ajuda para realizar algumas atividades da vida diária.

Em testagens lúdicas centradas na aprendizagem, a aluna apresentou ausência nas habilidades conceituais e do pensamento lógico. Nas áreas perceptivas e sensório-motora ainda não adquiriu habilidades de percepção, discriminação de semelhanças e diferenças quanto a cor, forma, tamanho, etc. Há limitações na memória e integração visomotora.

Foram constatadas limitações no seu processo de desenvolvimento cognitivo. De acordo com a avaliação fonoaudiológica, observaram-se órgãos fonoarticulatórios com mobilidade alterada. Sua linguagem compreensiva e expressiva apresenta limitações. Apresenta alterações fonéticas, principalmente em encontros consonantais. Na avaliação fisioterapêutica, observou-se alteração na marcha e dificuldades na coordenação motora fina.

Atualmente está matriculada numa Escola de Educação Infantil, cursando o 1º. período.   Apresentando limitações motoras que afetam sua postura e equilíbrio. O seu lado esquerdo é mais comprometido, apresentado ausência de força muscular. O lado direito é mais funcional, o que lhe permite realizar as atividades do cotidiano com uma relativa independência.

A criança demonstra sentir prazer em freqüentar à escola. Interage de forma positiva com todos os colegas. De acordo com sua professora, é uma criança alegre, comunicativa, participativa e carinhosa. Apresenta vocabulário variado e utiliza expressões de cortesia.

Do ponto de vista psicomotor, apresenta dificuldades de coordenação em atividade como: correr, dançar, pular e saltar, necessitando de ajuda. Em algumas atividades realizadas em sala, é possível perceber sua dificuldade no manuseio de objetos, como tesoura. Apresenta estrabismo. Apesar disso, de acordo com avaliação médica sua visão é adequada, conforme depoimento da responsável. Gosta de ouvir histórias e cantar. É capaz de expressar suas necessidades, desejos e interesses, utilizando-se da linguagem oral. Tem um ótimo relacionamento com a professora, pela qual nutre enorme carinho.

Sua escola não possui acessibilidade física de nenhum tipo. O prédio é antigo, necessitando de reparos e manutenção. Ao subir à escada que dá acesso à escola, a aluna necessita de apoio, já que esta não possui corrimão. A instituição não conta com material pedagógico adaptado. A criança participa de todas as atividades propostas para a turma. A aluna é bem aceita pela comunidade escolar, que possui pouca informação acerca do atendimento educacional especializado.

A criança está sob a responsabilidade de sua tia, já que a mãe é doente e não possui recursos financeiros para atender às demandas da filha. Aos dois anos de idade, a tia observou que sua sobrinha não andava, apenas se arrastava-se pelo chão. Razão pela qual, a partir de então, vem se esforçando para oferecer à criança o acompanhamento médico de que necessita, através de convênio médico particular.

Sua professora tem boas expectativas em relação ao seu desenvolvimento, mesmo não contando com o apoio do Atendimento Educacional Especializado (AEE), até o presente momento. A criança não está matriculada na Sala de Recurso. A escola em que a criança estuda não possui este atendimento, e o deslocamento para uma outra escola não é viável para a família. A família da criança, no caso sua tia, acredita em seu potencial, razão pela qual busca de todas as formas oferecer o melhor atendimento clínico para a mesma. A tia tem consciência dos direitos da sobrinha e participa ativamente de sua vida escolar.



2.   ANÁLISE E CLARIFICAÇÃO DO PROBLEMA



Caso Margarida


A análise do caso Margarida nos permitem identificar suas potencialidades e habilidades já desenvolvidas e em desenvolvimento, assim como, as limitações motoras, de postura e mobilidade como conseqüência da  paralisia cerebral.

Sua relação afetiva com os colegas e a professora é positiva. Participa das atividades propostas com interesse. É alegre, comunicativa, participativa e carinhosa. Gosta de cantar e dançar.

Sua linguagem expressiva e comunicativa está em desenvolvimento, apresentando um vocabulário variado. É capaz de expressar suas necessidades, desejos e interesses, utilizando a linguagem oral.

No entanto, a aluna apresenta atraso no seu desenvolvimento neuromotor e locomoção, alterações do movimento e força muscular; limitações em sua marcha, postura e equilíbrio; agitação psicomotora, rebaixamento da atenção e concentração. Dificuldades nas atividades de correr, pular e saltar, necessitando de apoio. Há limitações na sua coordenação motora fina, com dificuldades no manuseio e uso funcional de objetos escolares, como lápis e tesoura. Necessita de apoio nas atividades de vida diária.

A elaboração de um plano e proposta pedagógica para o AEE , visa garantir o desenvolvimento de sua aprendizagem e autonomia. Para tanto, é fundamental considerar as habilidades e competências já desenvolvidas pela aluna, seus interesses, necessidades e, sobretudo,  suas potencialidades.


A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO

O atendimento educacional especializado à criança com deficiência física deve apostar nas inúmeras possibilidades de crescimento e superação destas crianças. Assim como, na busca incessante de referenciais teóricos que possam alimentar uma prática pedagógica capaz de potencializar o seu desenvolvimento. Para crianças com déficit motor, como para qualquer outra, o céu é o limite. “Para estabelecer um prognóstico sobre a aprendizagem de uma criança é muito difícil fazer qualquer tipo de previsão porque nenhum de nós pode se julgar com capacidade de exercer esse tipo de poder”. (MEC, 2003)


O que é Paralisia Cerebral?
          A paralisia cerebral é um dos tipos de deficiência física, cuja principal característica é o comprometimento neuromotor, que se manifesta em diferentes graus, desde o mais leve ao mais severo. O termo também é utilizado para definir um conjunto heterogêneo de déficit motores. É também definida como uma desordem do movimento e da postura em razão de uma lesão neurológica. Onde o cérebro não é capaz de comandar corretamente os movimentos do corpo. A lesão não é progressiva e produz uma debilidade na coordenação da ação muscular, levando à incapacidade da criança em manter e realizar movimentos dentro dos padrões considerados normais.

Lesões neurológicas podem acarretar dificuldades no controle e na amplitude dos movimentos, na sustentação da postura, no equilíbrio e mobilidade. (GIACOMINI, 2010, p. 22). A criança com paralisia cerebral pode apresentar alterações na forma como anda, come, fala e escreve.

Paralisia cerebral não é doença, mas uma condição ocasionada pela falta de oxigenação no cérebro que pode ocorrer no processo que antecede o nascimento da criança, como durante ou depois, ou melhor, no pré-natal, peri ou pós-natal. Suas conseqüências variam de pessoa para pessoa, não se apresentando de maneira uniforme entre os sujeitos por ela acometidos.

O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL

          Observando as características da criança com paralisia cerebral, logo se verifica que o curso do seu desenvolvimento vai ser diferente se comparado ao da criança que não apresenta essa limitação. A criança com paralisia cerebral vai apresentar um desenvolvimento global mais lento em todos os aspectos.

Por exemplo, sabemos que é através do brincar que a criança estabelece interação com o meio, percebe o mundo a sua volta, construindo conceitos e impressões. Na criança com paralisia cerebral este brincar ficará em parte comprometido em razão de suas limitações, principalmente, as relacionadas à locomoção, o que lhe impedirá de explorar o ambiente.

Por essa razão, faz-se necessária a intervenção do adulto nesta atividade de modo a facilitar a interação da criança com o meio, sendo, se necessário, a extensão do seu próprio corpo, de  modo que o brincar lhe seja favorecido.

“(...) o desenvolvimento se processa no sentido da cabeça para os pés. Primeiramente, controla os olhos e progressivamente, percebe, estabelece contato, busca e fixa a visão; depois percebe as mãos e, aos poucos, descobre o poder de preensão e força que elas têm para pegar, agarrar, puxar, manipular; com ajuda dos braços busca alcançar, apoiar, e, futuramente, passa a ter domínio das pernas e dos pés usando-os em seu benefício na exploração do meio.” (MEC/SEESP, 2003)



Portanto, o desenvolvimento parte do todo para as partes. Dos grandes para os pequenos músculos, tornando-se, gradativamente, mais refinado e complexo.

Da mesma forma acontece com o desenvolvimento da linguagem infantil. Manifesta-se, inicialmente pelo choro, depois vem o balbucio e,  finalmente, palavras e frases. O curso do desenvolvimento segue, portanto, determinados padrões, ritmo e seqüência, variando de uma criança para outra, influenciado por condições genéticas e ambientais.

Portanto, as condições de desenvolvimento não são as mesmas para todas as crianças, tenham elas deficiência ou não. Razão pela qual, inexiste um padrão homogêneo e não há como estabelecer comparações entre as crianças.

Cada criança é única e deve ser vista como tal. No entanto, todas apresentam uma gama infinita de possibilidades, cabendo ao professor (especialista ou não) provê-las de condições para que possam expandir o seu potencial, através das mais variadas experiências e vivências.

“(...) a oportunidade fará a diferença e precisaremos instigar através da estimulação os ‘centros de controle’ a reorganizarem-se para assumir a função da parte lesada. Neste caso, a quantidade e, mais ainda, a qualidade de estímulos proporcionados à criança possibilitará o desenvolvimento máximo de suas potencialidades e isso justifica a importância de criarmos oportunidades comuns de convivência e desafios para o desenvolvimento”. (SHIRMER, 2007, p. 18)



As alterações apresentadas no desenvolvimento de uma criança com paralisia cerebral não significa que ela seja inferior à outra criança. Mas, tão somente, que o seu desenvolvimento seguiu outro curso, que ela buscou, em interação com o meio, para adaptar-se ao espaço social em que se encontra. Apropriando-se, de forma particular do seu conteúdo, conferindo-lhe significado.


PLASTICIDADE NEURAL

O Sistema Nervoso possui uma importante característica denominada “Plasticidade Neural”. A plasticidade é a capacidade de se tomar a forma ou alterar a forma e o funcionamento a partir da demanda ou exigência do meio. (SHIRMER, 2007, p.17)

Pessoas que sofreram lesões neurológicas, podem ser favorecidas, no curso do seu desenvolvimento, com a plasticidade neural do Sistema Nervoso. Desde que aliada à qualidade positiva das oportunidades, interações e vivências no âmbito familiar, escolar e social.

A existência da plasticidade neural, aliada à qualidade das interações estabelecidas em seu grupo (família, escola, etc.), desde que num ambiente de inclusão e não de isolamento, nos permitem acreditar numa infinidade de possibilidades para indivíduos com deficiência física. Quanto mais positivas forem as trocas psicossociais, certamente, mais positivo será o seu desenvolvimento físico, motor, social, cognitivo e afetivo.


A TECNOLOGIA ASSISTIVA PARA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

Entende-se por tecnologia assistiva todo e qualquer recurso à serviço da criança com deficiência, e que favorece a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou mesmo a possibilidade de realizar uma função desejada, e que na ausência do recurso fica impossibilitada de realizar em razão da deficiência.(SHIRMER, 2007, p.27).

É competência do Atendimento Educacional Especializado provê os recursos de TA, considerando as demandas da criança que será atendida.

Para crianças que apresentam comprometimento motor relacionados à preensão e coordenação, são necessárias adaptações do seguintes recursos:

·         Adequação dos materiais didático-pedagógicos: lápis com diâmetro engrossado com fita crepe, espuma ou argila; tesoura adaptada, dentre outros.

·         Adaptação de recursos para alimentação e higiene: copos adaptados com duas alças para favorecer a simetria dos membros superiores e coordenação bi manual. Talheres, pentes e escova de dente adaptados quanto ao tamanho, tipo e angulações, com engrossamento de cabos revestidos de espuma e epóxi ou outros materiais, favorecendo a preensão.



ESTABILIDADE POSTURAL, MOBILIDADE E APRENDIZAGEM

Crianças com disfunções neuromotoras necessitam de recursos específicos (almofadas de contenções laterais, cinto, apoio de cabeça, apoio para os pés, assento antiderrapante, etc.), de modo a suprir suas necessidades posturais e de equilíbrio. Capazes de  promover alinhamento, estabilidade e conforto.

“Postura e equilíbrio são a base da atividade motora, que por sua vez é a plataforma onde se apóiam os processos de aprendizagem. Não somos capazes de explorar o meio, mantendo atenção em tempo prolongado e interferindo nele em processo criativo, se não forem resolvidas as questões fundamentais de alinhamento e estabilidade postural”. (SHIRMER, 2007, p. 111)



Uma postura confortável deixará a criança com paralisia cerebral disponível para as questões relativas ao aprendizado, aumentando sua capacidade de concentração e atenção.

“Cada aluno pode ter sua necessidade de adequação postural e de mobilidade atendida se soubermos identificar os problemas existentes. Nesse sentido, temos que avaliar corretamente o aluno e sua condição física, o ambiente em que está ou que deseja acessar, bem como as atividades que ali pretende realizar. Essa avaliação auxilia na escola do recurso de tecnologia assistiva mais adequado para cada caso, que será sempre personalizado.” (GIACOMINI, 2007, p. 22)


3.   Metodologia


Para a elaboração do plano de atendimento educacional especializado, foi necessária a realização de entrevistas com a professora da aluna e com a responsável. Posteriormente, realizaram-se visitas à sala de aula, com o objetivo de observar à criança nas atividades propostas pela professora; em interação com os colegas de sala; em atividades lúdicas e nas atividades realizadas no pátio.





4.   Plano de Atendimento Educacional Especializado



Objetivo geral:



            Identificar os obstáculos e barreiras (física, material, ambiental, etc.) que impedem ou limitam a participação e independência do aluno, no ambiente escolar, familiar e social, de modo a favorecer o desenvolvimento de suas potencialidades e autonomia.

                                                   
Objetivos específicos:

Ø  Elaborar recursos de TA (tecnologia assistiva) que favoreçam a participação da aluna nas atividades escolares tendo em vista o desenvolvimento de sua aprendizagem.

Ø  Elabora recursos de TA utilizados nas atividades de vida diária: higiene e alimentação.

Ø  Selecionar recursos e estratégias adequadas que auxiliem a criança no desempenho  das atividades escolares.

Ø  Informar e orientar a escola e a família no que se refere as peculiaridades e demandas da criança, de modo que possam  cumprir o seu papel e assumir sua responsabilidade no atendimento à criança.

Ø  Solicitar à secretaria as adaptações físicas necessárias de modo a favorecer a mobilidade da aluna.



2. Organização do atendimento:

Período de atendimento: de setembro a novembro de 2011

Freqüência: 2 vezes por semana

Tempo de atendimento: 1hora e 20 minutos

Composição do atendimento: grupo de 3 crianças



3. Atividades a serem desenvolvidas:


As atividades abaixo visam o desenvolvimento da motricidade grossa e fina; equilíbrio, postura e preensão:

·         Circuito psicomotor; painéis psicomotores;

·         Brincar de massinha, realizar trabalhos de recorte e colagem, enfiagens, dobraduras, desenhos, pinturas.

·         Manipular e explorar materiais de diferentes texturas, espessuras, tamanhos e cores para identificar semelhanças e diferenças; jogos de construção e encaixe; fantoches; jogos simbólicos, música e movimento;

·         Propor atividades com jogos de regras; quebra-cabeça; etc.



4. Seleção de materiais a serem produzidos:



·         Adequação dos materiais didático-pedagógicos: lápis com diâmetro engrossado com fita crepe, espuma ou argila; tesoura adaptada;

·         Adaptação de recursos para alimentação e higiene: copos adaptados. Talheres, pentes e escova de dente adaptados quanto ao tamanho, tipo e angulações, com engrossamento de cabos revestidos de espuma e epóxi ou outros materiais, favorecendo a preensão.



5.    Adequações de materiais: (item 4)

6.    Seleção de materiais e equipamentos que necessitam ser adquiridos:

Jogos pedagógicos; bola, bambolê, corda, papel, tinta, fita crepe, etc.



7.    Tipos de parceria necessária para o aprimoramento do atendimento e da produção de materiais:

Manter parcerias com os seguintes profissionais: terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicomotricista e neurologista.


8.    Profissionais da escola que receberão orientação do professor de AEE sobre os serviços e recursos oferecidos ao aluno:

o   Professora da sala de aula;

o   Colegas de turma;

o   Gestora da Escola;

o   Pedagoga;

o   Cozinheira da escola;



9.    Avaliação dos resultados:

A avaliação será contínua, ocorrendo ao longo do processo de implementação do referido plano e,  em função dos objetivos estabelecidos.

 O  registro da avaliação será feito em ficha de acompanhamento individual, onde serão realizadas as considerações sobre o uso dos recursos e orientações, tanto no âmbito escolar quanto no familiar. Nele constarão, também, as mudanças observadas em relação ao aluno no contexto escolar e as repercussões das ações do AEE no desempenho escolar do aluno.


Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Inclusão: Revista da Educação Especial. V. 1, n. 1. Brasília, 2005

GIACOMINI, Lilia. A Educação Especial na perspectiva da Inclusão Escolar: orientação e mobilidade, adequação postural e acessibilidade espacial. Ministério da Educação/Seesp. Universidade Federal do Ceará, 2010
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006
Relatório Mundial sobre Deficiência – Tradução: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência/São Paulo – SP

ROPOLI, Edilene Aparecida. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: MEC/SEESP; Universidade Federal do Ceará, 2010
SABERES E PRÁTICAS DA INCLUSÃO: dificuldades de comunicação e sinalização. 2ª. Ed. Ver. Brasília: MEC/SEESP, 2003
SHIRMER, Carolina R. Deficiência Física. São Paulo: MEC/SEESP, 2007







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