Solange Sampaio de Oliveira
Pedagoga pós-graduada em Educação Especial e Educação Infantil
Professora da Sala de Recursos da Emef Lírio do Vale - Manaus/AM
Inúmeros
são os desafios a serem superados no sentido de que possamos, efetivamente,
consolidar o processo de inclusão das pessoas com deficiência, tanto no âmbito
social quanto no escolar. De acordo com a atual Política de Educação Especial
na perspectiva da Educação Inclusiva, percebe-se o constante esforço, no âmbito
legal, no sentido de oferecer às pessoas
com deficiência, com limitações sensoriais, físicas e/ou motoras, déficit
intelectual, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação –
historicamente excluídas do processo social e educacional – propostas
pedagógicas que visam a oferta de uma Educação de qualidade. Uma educação que
não aposta nas limitações deste grupo de indivíduos, mas, sobretudo, no
desenvolvimento do seu potencial: afetivo, cognitivo, físico e social.
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| Aquisição do conceito de número - correspondência número/quantidade |
Ao trabalharmos com alunos com déficit intelectual, TDAH e TEA(transtorno do espectro autista), temos como meta nos ater não na especificidade da deficiência, mas, na particularidade de cada sujeito que apresenta a deficiência com uma dentre outras várias características e peculiaridades humanas. O foco é o sujeito, considerando suas demandas, interesses e necessidades. O foco na deficiência fica para as especialidades médicas que, historicamente, vem buscando entendê-la e tratá-la, muitas vezes, desconsiderando o sujeito na sua dimensão humana.
Diferente disso, acreditamos
no sujeito, na pessoa humana, e, nesta perspectiva, compreendemos a Educação, e por extensão a
Educação Especial numa abordagem inclusiva, enquanto processo social e
histórico. Onde a aquisição do conhecimento garante ao
ser humano o domínio da natureza e de seus recursos, de modo a garantir sua
sobrevivência. Pensar o processo
pedagógico nesta perspectiva pressupõe conceber a aprendizagem enquanto
processo coletivo e dialético. Pois, como dizia Paulo Freire, ninguém educa
ninguém, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo.
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| Consciência fonológica - vogais |
Em geral a atividade lúdica no âmbito escolar, muito freqüentemente, é vista de forma negativa. Já que, tradicionalmente, a brincadeira e o estudo foram sempre colocados como atividades incompatíveis. Afinal, estudar é coisa séria. Como também, pouca importância, até bem pouco tempo, foi dada a brincadeira infantil. Costumeiramente, fomos habituados a ver na brincadeira um mero passatempo. No entanto, estudos e pesquisas vêm demonstrando a importância do brincar e do jogo para o desenvolvimento humano. De acordo com Antunes(2003, p.10): “O jogo possui implicações importantíssimas em todas as etapas da vida psicológica de uma criança e representa erro inaceitável considerá-lo como atividade trivial ou perda de tempo”.
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| Ciclo da vida das plantas e dos animais |
A atividade envolvendo o jogo de regras
permite que os alunos busquem superar os desafios impostos pelo jogo num
ambiente colaborativo de aprendizagem, onde os alunos, na atividade em grupo,
passam atuar na zona de desenvolvimento proximal do colega. Pois conforme
enfatiza Vigotsky, o que uma pessoa não consegue realizar sozinha, é capaz de
fazê-lo com a ajuda do outro.
A aprendizagem, a aquisição e a elaboração de novos conceitos
ocorrem num clima de descontração, em contextos significativos, onde a teoria
está diretamente vinculada à prática. Livre de pressões e tensões (próprias de
ambientes tradicionais de ensino). Para Oliveira(2007) as melhores
situações de aprendizagem estão entre aquelas que nos ensinam a pensar de forma
criativa e crítica num ambiente lúdico.
A literatura sobre o assunto aponta para vários resultados. As
habilidades e competências cognitivas e sociais desenvolvidas através do jogo passa a fazer parte da estrutura mental do sujeito que dele
participa. Podendo ir além, à medida em que através do processo de
generalização dos conceitos é possível sua aplicação nos mais variados
contextos sociais: no âmbito acadêmico, social, pessoal, familiar e
profissional.
O cérebro ao buscar novas estratégias para a resolução de problemas,
desenvolve estratégias funcionais e efetivas. Com a experiência, aprende a
utilizá-las cada vez melhor. Não apenas no contexto específico, mas, também, em
similares.
A aprendizagem no contexto lúdico não se limita a aquisição de
conteúdos, mas, visa, também,a assimilação de processos e métodos que permitem
o alcance dos objetivos almejados e de regras que possibilitam este percurso.
Tal situação é válida igualmente, de acordo com Oliveira(2007), em situações
onde o processo de construção do conhecimento pressupõe a superação de
barreiras vinculadas à dificuldades cognitivas e/ou emocionais, onde o processo
é desenvolvido de forma mais lenta e fragmentada.
Em casos onde são constatados distúrbios ou problemas na aprendizagem os
jogos representam uma poderosa alavanca que dinamiza e flexibiliza este processo.
Outro aspecto relevante na aplicação do jogo como recurso de aprendizagem está
em sua capacidade de envolver e motivar os sujeitos que participam deste
processo, resgatando seus processos mentais de forma saudável, envolvendo-os em
sua dinâmica viva e atraente, estimulando sua participação e seu processo
criativo na busca de novos caminhos, através de novas tentativas. Por meio do
jogo se desencadeiam processos mentais em contextos significativos de
aprendizagem, em processos lúdicos de construção do conhecimento.
Numa situação de jogo os desafios não são vistos com receio e nem
inspiram aversão, mas, configuram-se atraentes e estimulantes, desenvolvendo a
atenção, o raciocínio e a autonomia
intelectual. Lembrando que para Piaget o desenvolvimento da autonomia deveria
ser a principal meta da Educação.
É nesta perspectiva que se buscou desenvolver
um projeto de intervenção pedagógica, numa abordagem lúdica, na SALA DE RECURSOS da EMEF Lírio do Vale em Manaus/AM, tendo em vista a riqueza deste
recurso educacional no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem de todos os
sujeitos, independente de sua raça, faixa etária e condição social; com e sem
deficiência.
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| Uma criança autista jogando com sua mãe na Sala de Recursos |






