sábado, 1 de dezembro de 2018

INCLUSÃO ESCOLAR NUMA PERSPECTIVA LÚDICA


Solange Sampaio de Oliveira
Pedagoga pós-graduada em Educação Especial e Educação Infantil
Professora da Sala de Recursos da Emef Lírio do Vale - Manaus/AM


Inúmeros são os desafios a serem superados no sentido de que possamos, efetivamente, consolidar o processo de inclusão das pessoas com deficiência, tanto no âmbito social quanto no escolar. De acordo com a atual Política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, percebe-se o constante esforço, no âmbito legal,  no sentido de oferecer às pessoas com deficiência, com limitações sensoriais, físicas e/ou motoras, déficit intelectual, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação – historicamente excluídas do processo social e educacional – propostas pedagógicas que visam a oferta de uma Educação de qualidade. Uma educação que não aposta nas limitações deste grupo de indivíduos, mas, sobretudo, no desenvolvimento do seu potencial: afetivo, cognitivo, físico e social.
                                              
Aquisição do conceito de número - correspondência número/quantidade

      Ao trabalharmos com alunos com déficit intelectual, TDAH e TEA(transtorno do espectro autista), temos como meta nos ater não na especificidade da deficiência, mas, na particularidade de cada sujeito que apresenta a deficiência com uma dentre outras várias características e peculiaridades humanas. O foco é o sujeito, considerando suas demandas, interesses e necessidades. O foco na deficiência fica para as especialidades médicas que, historicamente, vem buscando entendê-la e tratá-la, muitas vezes, desconsiderando o sujeito na sua dimensão humana. 

Diferente disso, acreditamos no sujeito, na pessoa humana, e, nesta perspectiva,  compreendemos a Educação, e por extensão a Educação Especial numa abordagem inclusiva, enquanto processo social e histórico.  Onde a aquisição do conhecimento garante ao ser humano o domínio da natureza e de seus recursos, de modo a garantir sua sobrevivência.  Pensar o processo pedagógico nesta perspectiva pressupõe conceber a aprendizagem enquanto processo coletivo e dialético. Pois, como dizia Paulo Freire, ninguém educa ninguém, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo.


Consciência fonológica - vogais

        Em geral a atividade lúdica no âmbito escolar, muito  freqüentemente, é vista de forma negativa. Já que, tradicionalmente, a brincadeira e o estudo foram sempre colocados como atividades incompatíveis. Afinal, estudar é coisa séria. Como também, pouca importância, até bem pouco tempo, foi dada a brincadeira infantil. Costumeiramente,  fomos habituados a ver na brincadeira um mero passatempo.  No entanto, estudos e pesquisas vêm demonstrando a importância do brincar e do jogo para o desenvolvimento humano.
De acordo com Antunes(2003, p.10): “O jogo possui implicações importantíssimas em todas as etapas da vida psicológica de uma criança e representa erro inaceitável considerá-lo como atividade trivial ou perda de tempo”.


Ciclo da vida das plantas e dos animais

 A atividade envolvendo o jogo de regras permite que os alunos busquem superar os desafios impostos pelo jogo num ambiente colaborativo de aprendizagem, onde os alunos, na atividade em grupo, passam atuar na zona de desenvolvimento proximal do colega. Pois conforme enfatiza Vigotsky, o que uma pessoa não consegue realizar sozinha, é capaz de fazê-lo com a ajuda do outro.

 A aprendizagem,  a aquisição e a elaboração de novos conceitos ocorrem num clima de descontração, em contextos significativos, onde a teoria está diretamente vinculada à prática. Livre de pressões e tensões (próprias de ambientes tradicionais de ensino). Para Oliveira(2007)  as melhores situações de aprendizagem estão entre aquelas que nos ensinam a pensar de forma criativa e crítica num ambiente lúdico.

Exercício de leitura e escrita


A literatura sobre o assunto aponta para vários resultados. As habilidades e competências cognitivas e sociais desenvolvidas através do jogo passa a fazer parte da estrutura mental do sujeito que dele participa. Podendo ir além, à medida em que através do processo de generalização dos conceitos é possível sua aplicação nos mais variados contextos sociais: no âmbito acadêmico, social, pessoal, familiar e profissional.

O cérebro ao buscar novas estratégias para a resolução de problemas, desenvolve estratégias funcionais e efetivas. Com a experiência, aprende a utilizá-las cada vez melhor. Não apenas no contexto específico, mas, também, em similares.

 
Aquisição da sequência numérica


A aprendizagem no contexto lúdico não se limita a aquisição de conteúdos, mas, visa, também,a assimilação de processos e métodos que permitem o alcance dos objetivos almejados e de regras que possibilitam este percurso. Tal situação é válida igualmente, de acordo com Oliveira(2007), em situações onde o processo de construção do conhecimento pressupõe a superação de barreiras vinculadas à dificuldades cognitivas e/ou emocionais, onde o processo é desenvolvido de forma mais lenta e fragmentada.

Em casos onde são constatados distúrbios ou problemas na aprendizagem os jogos representam uma poderosa alavanca que dinamiza e flexibiliza este processo. Outro aspecto relevante na aplicação do jogo como recurso de aprendizagem está em sua capacidade de envolver e motivar os sujeitos que participam deste processo, resgatando seus processos mentais de forma saudável, envolvendo-os em sua dinâmica viva e atraente, estimulando sua participação e seu processo criativo na busca de novos caminhos, através de novas tentativas. Por meio do jogo se desencadeiam processos mentais em contextos significativos de aprendizagem, em processos lúdicos de construção do conhecimento.
 
Desenvolvendo a consciência fonêmica - som final

Numa situação de jogo os desafios não são vistos com receio e nem inspiram aversão, mas, configuram-se atraentes e estimulantes, desenvolvendo a atenção, o  raciocínio e a autonomia intelectual. Lembrando que para Piaget o desenvolvimento da autonomia deveria ser a principal meta da Educação.

 É nesta perspectiva que se buscou desenvolver um projeto de intervenção pedagógica, numa abordagem lúdica, na SALA DE RECURSOS da EMEF Lírio do Vale em Manaus/AM,  tendo em vista a riqueza deste recurso educacional no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem de todos os sujeitos, independente de sua raça, faixa etária e condição social; com e sem deficiência.


Uma criança autista jogando com sua mãe na Sala de Recursos

 Para saber mais:

ANTUNES, Celso. O jogo e a Educação Infantil - Editora Vozes, 2003
OLIVEIRA, Vera B. de. Jogo de Regras e a resolução de problemas. - Editora Vozes, 2007

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