sábado, 3 de março de 2012

Educação Infantil e desenvolvimento humano

SOLANGE SAMPAIO DE OLIVEIRA

Pedagoga e Professora

Especialista em Educação Infantil/UFAM



Para a Psicologia Histórico-cultural, o homem não nasce humano, mas, humaniza-se à medida que se insere no mundo da cultura, através da apropriação dos bens materiais (palpáveis) e não materiais (não palpáveis),  produzidos pela humanidade ao longo de sua existência histórica. Por esta razão a criança não nasce humana, mas, humaniza-se pela apropriação dessa herança cultural, através da Educação, seja ela formal ou não.

Arquivo pessoal

Sendo assim, o desenvolvimento infantil e a humanização do ser criança não se fazem somente pela via do seu aparato biológico, mas, é necessário que haja a sua inserção no mundo da cultura,  único elemento capaz de fornecer-lhe as condições psíquicas que são inerentes à condição humana.

É através da sua relação com a cultura do seu entorno (família, comunidade, escola, etc.) que a criança  torna-se apta a participar e atuar como membro da sociedade humana. Logo, “(...) a humanização do homem não é uma decorrência biológica da espécie, mas consequência de um longo processo de investimento no aprendizado da criança pequena, processo que se dá no interior do grupo social”. (ARCE, 2007, p. 107)

Arquivo pessoal
Vale ressaltar que todos os atores sociais são responsáveis por esse processo de humanização que se dá desde o  nascimento da criança, tendo a família um importante papel a desempenhar nesse processo. Já que cabe a esta estabelecer as bases para tal desenvolvimento.

Na medida em que a criança passa a participar de outros grupos sociais (escola, comunidade, etc.) estes passam a exercer uma enorme influência sob o seu processo de humanização (leia-se: EDUCAÇÃO).  

Para tanto é fundamental compreendermos alguns fatos que dizem respeito ao universo infantil:

A criança não possui aptidões humanas criadas de antemão. A capacidade para realizar esta ou aquela tarefa, falar um determinado idioma e comunicar-se resulta da sua interação com o meio social, mediado pelo adulto. Ou seja, o adulto é a ponte entre a cultura e a criança.

O desenvolvimento de suas capacidades decorre da apropriação dos objetos de sua cultura (sejam eles materiais ou não), a medida que atua sobre estes,  apropria-se de suas funções sociais. É a partir das relações que estabelece com as pessoas mais próximas e seus pares, que a criança passa a conferir significado as pessoas, objetos e relações. Transformando, relações sociais em funções psicológicas (apropriação de capacidades e habilidades).

Arquivo pessoal
Vale ressaltar, que no processo de aquisição de novos saberes, pelo sujeito, há a necessidade de que estes saberes atendam as suas demandas afetivas, pois só quando a criança está envolvida afetivamente, ela engaja-se na tarefa que realiza, pelo significado que esta lhe desperta. Esta condição é imprescindível para que a criança aprenda,  desenvolva-se e se expresse.

A Psicologia Histórico-cultural ressalta a importância da aprendizagem enquanto motor do desenvolvimento humano, considerando a importância das relações sociais como pano de fundo de todo este processo.

Sendo assim, se a criança desde cedo não estiver envolvida em atividades que sejam, efetivamente, impulsionadoras de seu desenvolvimento, isto, consequentemente, bloqueará o despertar de suas capacidades e habilidades de natureza afetiva, cognitiva, social e motora; impedindo-a, em face de tais limitações, sua ação sobre o meio, enquanto sujeito de sua própria história. De modo que “[...] em lugar da formação de sua autoconsciência sobre as próprias possibilidades, forma-se uma consciência dos limites, daquilo que ela não pode ou não sabe fazer”. (BISSOLI, p.6)

Arquivo pessoal
Vygotsky chama a atenção para o fato de que nem tudo pode ser aprendido a qualquer tempo. Existem momentos propícios para o desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Os tempos e os ritmos são individualizados, havendo sempre a possibilidade de que duas crianças, de uma mesma faixa etária, encontrarem-se em diferentes momentos e etapas do desenvolvimento infantil.

As diferenças entre as crianças de uma mesma faixa etária, jamais poderão resultar em preconceito de nenhuma espécie ou mesmo desconforto por parte de pais  e/ou professores. Já que tal atitude em nenhum momento favorece a criança. Sendo, ao contrário, obstáculo a sua aprendizagem e desenvolvimento.

O ideal seria que escola e família,  agissem em parceria, visando identificar a natureza das limitações da criança. Buscando apoio especializado, quando necessário, e elaborando formas de intervenção que possam ser eficazes, preservando o bem estar da criança e garantindo-lhe um desenvolvimento harmônico e saudável.

 É, portanto, imprescindível conhecermos as peculiaridades do desenvolvimento infantil, oferecendo à criança uma educação que a respeite como sujeito único e singular. Somente assim, estaremos promovendo uma educação, efetivamente, humanizadora.





Para saber mais:

ARCE, Alessandra e outros. QUEM TEM MEDO DE ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL? Em defesa do ato de ensinar. Campinas, SP: Editora Alínea, 2007

BISSOLI, Michele de Freitas. Educação Infantil: Espaço e tempo de desenvolvimento da personalidade da criança. FACED/UFAM

FALK, Judit e outros. Educar os primeiros anos: a experiência de Lóczy. Araraquara: IM Editora, 2004

VIGOTSKY, Lev Semenovich. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004






Um comentário:

  1. Olá Adorei suas postagens, seria muito bom se existissem mais profissionais como voce! tenha um ótimo final de semana!!!

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