Quando criança, posso dizer que o meu mundo ia além dos muros da minha casa e se estendia por toda a vizinhança.
E, tenho certeza, que para muitos da minha geração a realidade foi a mesma. Subir em árvores e comer fruta no pé, possivelmente, foi para mim uma das mais marcantes experiências.
Pular corda, brincar de "queimada", futebol com os meninos e bolinha (usando caroço de tucumã, fruta típica da região norte do Brasil) foram igualmente prazerosos e, na base destas brincadeiras infantis, certamente, meu caráter foi moldado. Lembro do dia em que minha mãe chegou pra mim e disse: "de hoje em diante você vai aprender a cozinhar" e, apesar de fazer comida ser algo que me dá muito prazer, lembro que ao me ver na cozinha, enquanto meus colegas brincavam naquele domingo de sol, causou-me uma ponta de inveja e tristeza.
Isso tudo, pra dizer que a hiperatividade tão condenada, hoje, por nossa sociedade, faz parte da essência infantil. Não fui medicada pelo meu excesso de hiperatividade motora (lembrando que o Tdah está relacionado a hiperatividade mental), porque, naquela época, curava-se os excessos com palmadas. Hoje, graças a Deus evoluímos, neste aspecto. O fato é que crianças agitadas sempre existiram. E, essa agitação deveria ser vista como algo saudável e não como transtorno ou doença. A necessidade de controlar o comportamento infantil é que deveria ser visto como patológico.
Hoje, o que muitos desejam é que nossas crianças sejam "comportadas" e obedientes. Um conceito que precisa ser revisado com cautela. Precisamos parar e refletir sobre as consequências de se buscar moldar o comportamento humano pela via da medicalização. Abaixo, a opinião de Carly, uma jovem autista, sobre esse tema. Boa leitura!
Hoje, o que muitos desejam é que nossas crianças sejam "comportadas" e obedientes. Um conceito que precisa ser revisado com cautela. Precisamos parar e refletir sobre as consequências de se buscar moldar o comportamento humano pela via da medicalização. Abaixo, a opinião de Carly, uma jovem autista, sobre esse tema. Boa leitura!
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Se o
seu filho típico ou criança com necessidades especiais se comporta mal em sala
de aula ou em casa, o que você faz? Bem, a maioria das pessoas na América do
Norte vai logo ao seu médico de confiança e inicia medicação em seus filhos.
Prescrições
para alguns dos medicamentos psiquiátricos mais potentes no mercado – os
chamados antipsicóticos de “segunda geração”, ou ASGs – para jovens de 18 e
abaixo aumentou 18 vezes só na British Columbia (Canadá) entre 1996 e 2011,
segundo um novo estudo, representando um dos maiores aumentos nas prescrições
para meninos de até seis anos. As crianças estão sendo colocadas em drogas
potentes para uma ampla gama de diagnósticos não aprovados pelo Ministério da
saúde do Canadá, dizem os pesquisadores.
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Eu sei
o que a maioria de vocês estão pensando! Se os médicos prescreveram a medicação
isso significa que a criança precisa! Mas muitos médicos não são capazes ou não
estão aptos/treinados nem para diagnosticar o que há de errado com a criança.
Daí um monte de drogas que só deveriam ser prescritas para pessoas acima
de 18 anos passam a ser prescritas a crianças com idade inferior. Então, por
que nós, como sociedade aceitamos isso? É realmente bom para uma criança de
apenas seis anos tomar antidepressivos? Como pode o médico receitar um
medicamento cuja droga nunca foi testada para a função/diagnóstico a que se
destina? Isto está acontecendo em toda a América do Norte e em outras partes do
mundo. Será que devemos realmente aceitar isso como normal na sociedade?
Até
2011, os antipsicóticos de segunda geração responderam por 96% de todas as
prescrições de antipsicóticos para a infância/juventude, segundo os relatórios
da equipe. Os medicamentos mais prescritos foram risperidona, quetiapina e
olanzapina.
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O maior
aumento foi entre os meninos com idades entre 13 a 18 anos, onde a taxa subiu
mais de quatro vezes. Mas aumentos semelhantes foram observados em meninos com
idades entre 6 e 12 anos, bem como de 13 a 18 anos de idade para meninas.
No
geral, o número total de crianças menores de 18 anos que receberam uma prescrição
de antipsicóticos aumentou para 5.791 durante o ano de 2011, em comparação a
1.583 em 1996 – um salto de quase quatro vezes! Mas o número total de jovens
que (neste mesmo período, presumo), especificamente, recebeu um SGA aumentou
para 5.432 comparado a 315 durante os anos escolares. Isso traduz-se num
aumento de 18 vezes na média geral de prescrições.
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Meu
professor de Inglês me disse que um dos melhores cursos para estudar na
universidade é sobre zumbis!! Isso me fez pensar para o que estamos criando nossos
filhos nestes dias? Nós não somos capazes de lidar com eles, então qual é a
solução? Colocá-los em uso de medicação! As empresas farmacêuticas e os médicos
não deveriam permitir que isso acontecesse. Nós, como sociedade, não devemos
permitir que isso aconteça. A medicação tem o seu lugar na sociedade, mas não
deve ser o pilar de apoio e definitivamente não deve ser usado como uma solução
rápida para acalmar os nossos filhos. É o momento que todos nós nos levantarmos
e dizermos que vamos chegar à raiz dos problemas dos nossos filhos. Não vamos
confiar em algo que pode afetar a saúde dos nossos filhos no futuro. Vamos
superar todos os problemas que venham a afetar nossos filhos.
Eu
tenho a sorte de ter pais que acreditaram em mim e que fizeram tudo em seu
alcance para que eu tivesse todo o suporte de que necessitava. Sei que muitos
pais se sentem da mesma maneira e é hora de todo mundo se levantar e apoiar o
fato de que as drogas não são a resposta para todos os problemas.
“Para
se ouvir a voz de uma criança há de se percorrer um longo caminho”.
Carly
Fleischmann
Fonte: poderdospais.wordpress.com/2013/06/10/carly-autista-fala-sobre-uso-de-medicacao-controlada-traducao-livre-evellyn-diniz/




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