quarta-feira, 27 de junho de 2012

TEMPLE GRANDIN E O AUTISMO


Uma das principais queixas dos familiares de pessoas com autismo é a falta de informação e orientação sobre a síndrome. Muitos se sentem impotentes diante de uma criança com autismo; por não saberem como agir diante de seu comportamento estereotipado, sua fixação em determinados objetos e as tão indesejáveis “birras”. Para responder a algumas das indagações que cercam o mundo das pessoas envolvidas com o autismo,  considero muito oportuna a leitura do  artigo científico  da Dra. Temple Grandin.

 Nele, dentre outras contribuições, a autora destaca sua trajetória de vida com o autismo, desde a infância até a vida adulta. Temple é conhecida mundialmente por seu trabalho em favor do autismo.

Temple foi diagnosticada com autismo aos 2 anos de idade, em 1950. Na época, pouco conhecimento havia sobre a síndrome. Aos 4 anos começou a falar com a ajuda de uma fonoaudióloga.

Sobre a capacidade de pensar visualmente, Temple relata no artigo um aspecto curioso desse pensamento, ao explicar como fazia para compreender a oração do “Pai Nosso”:

“Quando eu era pequena, eu precisava visualizar a oração do "Pai Nosso" para compreendê-la. O "poder e a glória" eu via como torres elétricas de alta tensão e um imenso arco-íris brilhante formando um sol. A palavra "transgressão" era visualizada como um sinal de "proibido traspassar" preso na árvore do meu vizinho. Algumas partes da oração eram simplesmente incompreensíveis para mim. O único tipo de oração não visual que eu tenho é quando eu penso em música.”

Sobre o seu processo de alfabetização, Temple destaca a importância de sua mãe como alfabetizadora e do método que esta utilizou:

“A minha mãe foi a minha salvação no que diz respeito à leitura. Eu nunca teria sido capaz de aprender pelo método que requer a memorização de centenas de palavras. Palavras são muito abstratas para se lembrar. Ela me ensinou através de fonemas antigos, que não são usados atualmente. Depois que eu trabalhei bastante e aprendi todos os sons, eu fui capaz de ler as palavras. Para me motivar, ela lia uma página e parava subitamente na parte mais empolgante. Eu tinha que ler a próxima sentença. Gradualmente, ela foi lendo menos e menos. A Sra. David W. Eastham do Canadá ensinou seu filho autista a ler, com métodos similares, fazendo uso de alguns métodos montessorianos. Muitos professores pensavam que o menino fosse retardado. Ele aprendeu a se comunicar datilografando e veio a escrever lindas poesias. Douglas Biklen da Universidade de Syracuse, já conseguiu ensinar algumas pessoas autistas não-verbais a escrever fluentemente na máquina de escrever. A princípio, para evitar repetição em uma só tecla, os pulsos são sustentados por outra pessoa. “

Sobre as fixações tão comuns no comportamento autista, Temple nos apresenta os seus significados. Em seguida, orienta os professores sob como tirar proveito delas em favor da criança com autismo, de modo que possam representar o início de uma carreira profissional futura:

“Outra das minhas fixações eram as portas de correr de vidro. No início eu estava interessada nelas porque eu gostava da sensação de vê-las se movimentando. Depois, gradualmente as portas tiveram outro significado para mim. (...) Um adolescente autista que tenha interesses desse tipo pode ser estimulado a aprender mais sobre ciências. Se o meu professor tivesse me desafiado a aprender os mecanismos e partes eletrônicas da porta de correr, eu provavelmente teria entrado na área de eletrônica. As fixações podem ser tremendos motivadores e os professores precisam usar essa ferramenta. Quando os interesses da criança são estreitos é preciso trabalhar para aumentá-los e transformá-los em atividades construtivas. O mesmo princípio pode ser aplicado tanto em crianças com um comprometimento pequeno quanto crianças com comprometimento mais forte com o autismo. Simons e Sabine (1987) dão uma lista com muitos bons exemplos.”(...) Muitas das minhas fixações, à princípio, estavam relacionadas aos meus sentidos. Quando eu estava na quarta série, gostava de usar um certo tipo de propaganda eleitoral que era feita de duas placas de madeira presas de maneira que eu as vestia como se fosse um vestido. Na verdade, eu gostava de me sentir um sanduíche com as placas na frente e atrás. Alguns terapeutas dizem que o uso de uma veste mais pesada freqüentemente reduz a hiperatividade”.

Com base em sua experiência, Temple defende a necessidade da intervenção precoce para tratar o autismo, assim como professores qualificados para prestar apoio e direcionar suas fixações.

Uma ótima leitura! Acesse o artigo completo aqui: http://www.autismo-br.com.br/home/Grandin1.htm


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