Uma
das principais queixas dos familiares de pessoas com autismo é a falta de
informação e orientação sobre a síndrome. Muitos se sentem impotentes diante de
uma criança com autismo; por não saberem como agir diante de seu comportamento
estereotipado, sua fixação em determinados objetos e as tão indesejáveis “birras”.
Para responder a algumas das indagações que cercam o mundo das pessoas envolvidas
com o autismo, considero muito oportuna a
leitura do artigo científico da Dra. Temple Grandin.
Nele, dentre outras contribuições, a autora
destaca sua trajetória de vida com o autismo, desde a infância até a vida
adulta. Temple é conhecida mundialmente por seu trabalho em favor do autismo.
Temple
foi diagnosticada com autismo aos 2 anos de idade, em 1950. Na época, pouco
conhecimento havia sobre a síndrome. Aos 4 anos começou a falar com a ajuda de
uma fonoaudióloga.
Sobre
a capacidade de pensar visualmente, Temple relata no artigo um aspecto curioso
desse pensamento, ao explicar como fazia para compreender a oração do “Pai
Nosso”:
“Quando eu era pequena, eu precisava visualizar a
oração do "Pai Nosso" para compreendê-la. O "poder e a
glória" eu via como torres elétricas de alta tensão e um imenso arco-íris
brilhante formando um sol. A palavra "transgressão" era visualizada
como um sinal de "proibido traspassar" preso na árvore do meu
vizinho. Algumas partes da oração eram simplesmente incompreensíveis para mim.
O único tipo de oração não visual que eu tenho é quando eu penso em música.”
Sobre
o seu processo de alfabetização, Temple destaca a importância de sua mãe como
alfabetizadora e do método que esta utilizou:
“A minha mãe foi a minha salvação no que diz
respeito à leitura. Eu nunca teria sido capaz de aprender pelo método que
requer a memorização de centenas de palavras. Palavras são muito abstratas para
se lembrar. Ela me ensinou através de fonemas antigos, que não são usados
atualmente. Depois que eu trabalhei bastante e aprendi todos os sons, eu fui
capaz de ler as palavras. Para me motivar, ela lia uma página e parava
subitamente na parte mais empolgante. Eu tinha que ler a próxima sentença.
Gradualmente, ela foi lendo menos e menos. A Sra. David W. Eastham do Canadá
ensinou seu filho autista a ler, com métodos similares, fazendo uso de alguns
métodos montessorianos. Muitos professores pensavam que o menino fosse
retardado. Ele aprendeu a se comunicar datilografando e veio a escrever lindas
poesias. Douglas Biklen da Universidade de Syracuse, já conseguiu ensinar
algumas pessoas autistas não-verbais a escrever fluentemente na máquina de
escrever. A princípio, para evitar repetição em uma só tecla, os pulsos são
sustentados por outra pessoa. “
Sobre
as fixações tão comuns no comportamento autista, Temple nos apresenta os seus
significados. Em seguida, orienta os professores sob como tirar proveito delas
em favor da criança com autismo, de modo que possam representar o início de uma
carreira profissional futura:
“Outra das minhas fixações eram as portas de correr
de vidro. No início eu estava interessada nelas porque eu gostava da sensação
de vê-las se movimentando. Depois, gradualmente as portas tiveram outro
significado para mim. (...) Um adolescente autista que tenha interesses desse
tipo pode ser estimulado a aprender mais sobre ciências. Se o meu professor
tivesse me desafiado a aprender os mecanismos e partes eletrônicas da porta de
correr, eu provavelmente teria entrado na área de eletrônica. As fixações podem ser tremendos
motivadores e os professores precisam usar essa ferramenta. Quando os
interesses da criança são estreitos é preciso trabalhar para aumentá-los e
transformá-los em atividades construtivas. O mesmo princípio pode ser aplicado
tanto em crianças com um comprometimento pequeno quanto crianças com
comprometimento mais forte com o autismo. Simons e Sabine (1987) dão uma lista
com muitos bons exemplos.”(...) Muitas das minhas fixações, à princípio,
estavam relacionadas aos meus sentidos. Quando eu estava na quarta série,
gostava de usar um certo tipo de propaganda eleitoral que era feita de duas
placas de madeira presas de maneira que eu as vestia como se fosse um vestido.
Na verdade, eu gostava de me sentir um sanduíche com as placas na frente e
atrás. Alguns terapeutas dizem que o uso de uma veste mais pesada
freqüentemente reduz a hiperatividade”.
Com
base em sua experiência, Temple defende a necessidade da intervenção precoce
para tratar o autismo, assim como professores qualificados para prestar apoio e
direcionar suas fixações.
Uma ótima
leitura! Acesse o artigo completo aqui: http://www.autismo-br.com.br/home/Grandin1.htm
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