Hoje, um adolescente que atendo
fez o seguinte comentário: “Quando o Alysson Muotri descobrir a cura do
autismo, eu vou ser uma pessoa normal”... Outro dia uma mãe comentou, perto do
filho: “Eu vejo ele com os irmãos e penso: por que ele não é normal, também? ”
![]() |
| Roda de leitura - EAMAAR |
São apenas exemplos cotidianos do
quanto o conceito de anormalidade está associado ao conceito de deficiência. E,
o quanto isso pode interferir no autoconceito e autoestima de pessoas com
deficiência.
A deficiência não deve ter o
poder de definir as pessoas e categorizá-las. A deficiência é só uma
característica dentre as múltiplas apresentadas pelo sujeito. Conhecer a
deficiência não é a mesma coisa que conhecer a pessoa que a apresenta.
A relação humana que se deve
estabelecer é, primeiramente, com o sujeito. Que deve ser respeitosa,
sobretudo. Olhar para a deficiência e não enxergar o ser humano; deixar que a
deficiência limite o meu olhar e me leve a um julgamento equivocado sobre o
sujeito, é injusto e uma afronta.
![]() |
| Produção de texto - EAMAAR/Am |
Jim Sinclair,
diagnosticado com autismo, fez num artigo o seguinte comentário: “Os pais
geralmente contam que reconhecer que seu filho é autista foi a coisa mais
traumática que já lhes aconteceu. As pessoas não autistas veem o Autismo como
uma grande tragédia, e os pais experimentam um contínuo desapontamento e luto
em todos os estágios do ciclo de vida da família e da criança. Mas este pesar
não diz respeito diretamente ao autismo da criança. É um luto pela perda da
criança normal que os pais esperavam e desejavam ter, as expectativas e
atitudes dos pais e as discrepâncias entre o que os pais esperam das crianças
numa idade particular e o desenvolvimento atual de seu próprio filho causam
mais estresse e angústia que as complexidades práticas da convivência com uma
pessoa autista”.
Infelizmente muitas famílias de
pessoas com deficiência tem uma certa dificuldade de superar o luto de um sonho
que não se realizou; assim como, o desapontamento por suas expectativas
frustradas em relação a um ser que nasceu “longe da árvore” ou “fora dos
padrões” ditos sociais.
![]() |
| Linguagem matemática - EAMAAR/AM |
Fala-se muito em inclusão social,
no entanto, muitas de nossas crianças com deficiência são excluídas pelos próprios
familiares. Muitas mães de crianças com autismo sofrem com a exclusão dentro da
própria família. Carregam sozinhas a responsabilidade de cuidar e educar suas
crianças, sem o apoio e o acolhimento de parentes e familiares próximos.
E, nesse contexto, a criança com
deficiência vai construindo sua autoimagem a partir da percepção do outro sobre
ela. O acolhimento e a aceitação vão ser o combustível com o qual sua autoestima
será moldada.
“A aceitação de si mesmo faz
parte do ideal, mas sem a aceitação familiar e social ela não pode amenizar as
injustiças implacáveis a que grupos de identidade horizontal estão sujeitos, e
não provocará uma reforma adequada”. (Andrew Solomon em “Longe da Árvore, p.
17)
A fixação pela cura e pela normalização
do sujeito, guardadas as devidas proporções, poderá resultar num transtorno
ainda maior no que ser refere a formação da personalidade e a construção da
identidade do sujeito com deficiência. Sobre isso Jim nos alerta:
![]() |
| Quebra-cabeça de Dinossauros |
“A criança
autista que precisa de adultos cuidadosos, pode obter um relacionamento muito
significativo com essas pessoas que cuidam dela, se lhes for dada a
oportunidade. Atentar continuamente para o Autismo da criança como a origem da
dor é prejudicial tanto para os pais como para a criança e impede o
desenvolvimento de uma aceitação e de um relacionamento autêntico entre eles.
Em consideração a eles próprios ou à suas crianças, eu conclamo os pais a
fazerem mudanças radicais nas suas opiniões sobre o que o Autismo significa”.
É a humanidade que nos
caracteriza (ou pelo menos deveria), assim como a diversidade. Devemos
contemplar as diferenças e ver quanta beleza há naquele jeitinho especial de
ser e que nos torna únicos.
![]() |
| Leitura e escrita - EAMAAR/AM |
Gosto muito de uma frase que diz:
“Normal é ser feliz!!!
Um pai certa vez falou a respeito
de seu filho com autismo: “Deixei de querer que ele fosse normal. Desejo,
apenas, que ele seja feliz!
![]() |
| Hora do Jogo - EAMAAR/AM |
Quando vejo a felicidade nos
olhos das crianças que atendo, vejo como são completas e inteiras. E, isso é o
bastante!!!






Nenhum comentário:
Postar um comentário