segunda-feira, 22 de junho de 2015

DEFICIÊNCIA E AUTOESTIMA:Quando o olhar do outro me define...

     Hoje, um adolescente que atendo fez o seguinte comentário: “Quando o Alysson Muotri descobrir a cura do autismo, eu vou ser uma pessoa normal”... Outro dia uma mãe comentou, perto do filho: “Eu vejo ele com os irmãos e penso: por que ele não é normal, também? ”

Roda de leitura - EAMAAR

    São apenas exemplos cotidianos do quanto o conceito de anormalidade está associado ao conceito de deficiência. E, o quanto isso pode interferir no autoconceito e autoestima de pessoas com deficiência.

   A deficiência não deve ter o poder de definir as pessoas e categorizá-las. A deficiência é só uma característica dentre as múltiplas apresentadas pelo sujeito. Conhecer a deficiência não é a mesma coisa que conhecer a pessoa que a apresenta.

   A relação humana que se deve estabelecer é, primeiramente, com o sujeito. Que deve ser respeitosa, sobretudo. Olhar para a deficiência e não enxergar o ser humano; deixar que a deficiência limite o meu olhar e me leve a um julgamento equivocado sobre o sujeito, é injusto e uma afronta.

Produção de texto - EAMAAR/Am
Jim Sinclair, diagnosticado com autismo, fez num artigo o seguinte comentário: “Os pais geralmente contam que reconhecer que seu filho é autista foi a coisa mais traumática que já lhes aconteceu. As pessoas não autistas veem o Autismo como uma grande tragédia, e os pais experimentam um contínuo desapontamento e luto em todos os estágios do ciclo de vida da família e da criança. Mas este pesar não diz respeito diretamente ao autismo da criança. É um luto pela perda da criança normal que os pais esperavam e desejavam ter, as expectativas e atitudes dos pais e as discrepâncias entre o que os pais esperam das crianças numa idade particular e o desenvolvimento atual de seu próprio filho causam mais estresse e angústia que as complexidades práticas da convivência com uma pessoa autista”.

        Infelizmente muitas famílias de pessoas com deficiência tem uma certa dificuldade de superar o luto de um sonho que não se realizou; assim como, o desapontamento por suas expectativas frustradas em relação a um ser que nasceu “longe da árvore” ou “fora dos padrões” ditos sociais.

Linguagem matemática - EAMAAR/AM

     Fala-se muito em inclusão social, no entanto, muitas de nossas crianças com deficiência são excluídas pelos próprios familiares. Muitas mães de crianças com autismo sofrem com a exclusão dentro da própria família. Carregam sozinhas a responsabilidade de cuidar e educar suas crianças, sem o apoio e o acolhimento de parentes e familiares próximos.

     E, nesse contexto, a criança com deficiência vai construindo sua autoimagem a partir da percepção do outro sobre ela. O acolhimento e a aceitação vão ser o combustível com o qual sua autoestima será moldada.

   “A aceitação de si mesmo faz parte do ideal, mas sem a aceitação familiar e social ela não pode amenizar as injustiças implacáveis a que grupos de identidade horizontal estão sujeitos, e não provocará uma reforma adequada”. (Andrew Solomon em “Longe da Árvore, p. 17)

   A fixação pela cura e pela normalização do sujeito, guardadas as devidas proporções, poderá resultar num transtorno ainda maior no que ser refere a formação da personalidade e a construção da identidade do sujeito com deficiência. Sobre isso Jim nos alerta:

Quebra-cabeça de Dinossauros


“A criança autista que precisa de adultos cuidadosos, pode obter um relacionamento muito significativo com essas pessoas que cuidam dela, se lhes for dada a oportunidade. Atentar continuamente para o Autismo da criança como a origem da dor é prejudicial tanto para os pais como para a criança e impede o desenvolvimento de uma aceitação e de um relacionamento autêntico entre eles. Em consideração a eles próprios ou à suas crianças, eu conclamo os pais a fazerem mudanças radicais nas suas opiniões sobre o que o Autismo significa”.

       É a humanidade que nos caracteriza (ou pelo menos deveria), assim como a diversidade. Devemos contemplar as diferenças e ver quanta beleza há naquele jeitinho especial de ser e que nos torna únicos.

Leitura e escrita - EAMAAR/AM


            Gosto muito de uma frase que diz: “Normal é ser feliz!!!  

        Um pai certa vez falou a respeito de seu filho com autismo: “Deixei de querer que ele fosse normal. Desejo, apenas, que ele seja feliz!

Hora do Jogo - EAMAAR/AM

         Quando vejo a felicidade nos olhos das crianças que atendo, vejo como são completas e inteiras. E, isso é o bastante!!!





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